Primeiro e segundo forro do casco

Desfiando as tábuas do primeiro forro na serra circular de precisão, a partir de uma prancha de marupa. O primeiro forro enforma o casco e consolida a ossada. Um segundo forro de madeira de bétula será colocado posteriormente. As tábuas têm 5 mm de largura e 1,75 de espessura. São necessárias 60 ripas para cada um dos dois forros da canoa.

Depois de verificar de novo a correcção do abatimento da madeira em cada baliza, aplicou-se a primeira tábua de forro seguindo, por baixo, a linha do convés, de forma a manter a linha original do tosado. Começa-se indiferenciadamente por aplicar a tábua de bombordo ou de estibordo, mas logo que a primeira tábua está pregada num dos bordos aplica-se no bordo oposto, seguindo a mesma linha e trajectória. Para evitar empenos da ossada, as primeiras voltas do forro são aplicadas com o modelo solidamente fixado no picadeiro.

Ainda com o modelo no picadeiro, aplica-se a segunda tábua do forro por baixo da tábua anteriormente colocada. As duas tábuas seguem unidas apenas na zona da casa mestra sendo que na proa e na popa descem um pouco seguindo a sua tendência natural. Não se pode forçar a tábua a seguir uma curvatura muito acentuada, pois isso introduz deformações na estrutura. As tábuas do forro colocam-se sequencialmente em cada bordo. A simetria das voltas e a ausência de empenos na estrutura devem ser cuidadosa e repetidamente verificadas. Os pregos não são colocados até ao fundo, pois deverão ser removidos logo que a cola seque.

O modelo só é removido do picadeiro quando se tem a certeza de que as tábuas anteriormente colocadas garantem a solidez da estrutura.

Com o modelo “a fazer da quilha portaló” coloca-se, em cada bordo, uma tábua do forro do fundo.

Aplicação das tábuas do resbordo, as primeiras voltas do fundo a seguir à quilha, em cada bordo. Verifica-se, pelo alinhamento da quilha que até ao momento a estrutura do modelo não sofreu deformações significativas.
As tábuas do forro anteriormente colocadas funcionam como as “armadouras” dos navios que garantem a correcção e a solidez da ossada. Nesta fase pode-se completar o forro enchendo os espaços em aberto entre as tábuas.
Tábuas de forro terminando em cunha simplificam o processo de enchimento do forro. Neste momento já não há o perigo da estrutura vir a sofrer empenos acidentais. No entanto, o remate do forro junto ao cadaste exige algum cuidado de forma a garantir uma superfície desempolada na transição entre o cadaste e o encolamento.
Verificando os remates junto ao cadaste. Nesta área as voltas sofrem uma torção acentuada para se adaptarem ao delgado da ré.
Aplicou-se a primeira tábua do forro seguindo a curvatura longitudinal do pavimento. O alcatratre, ou corrimão da borda, também tem tosado, cuja curvatura vem indicada nos planos. A aplicação de uma última tábua seguindo a linha abaixo do corrimão da borda permite definir a curvatura deste.


Coloca-se cola branca no interior do casco para aumentar a sua resistência e selar qualquer junta que não tenha ficado devidamente colada. Aplica-se a cola em áreas alternadas, pois a humidade da cola poderia descolar o forro já colocado. Logo que a cola seque pode proceder-se ao polimento do casco. Passa-se primeiro com lixa de grão médio (80 a 120) e faz-se o acabamento com uma lixa mais fina (grão 150- 180).

Pormenor sobre as tábuas para o segundo forro, acabadas de sair das máquinas. O segundo forro do convés é de madeira de bétula que foi desfiada na serra circular de precisão e aparelhada na desengrossadeira para ficar com 1,5 mm de espessura e 4,5 mm de largura. Estas tábuas são bastante flexíveis e dão um excelente acabamento ao casco. Começou-se por colocar o cintado, cujas tábuas são ligeiramente mais grossas do que as do forro e a tábua do resbordo. A tábua do resbordo segue paralela à quilha.

No segundo forro o remate entre duas tábuas deve ser feito a preceito de forma a que os topos das voltas terminem imitando uma construção à escala real. Fez-se um entalhe numa das tábuas contíguas para alojar a tábua a colocar. O procedimento é semelhante na ré.
Pausa na construção de seis canoas da picada, para a fotografia. Uma visão invulgar sobre seis modelos simultaneamente semelhantes e diferentes, expressando, cada um deles, à sua maneira, algo acerca da personalidade do seu construtor.
É notória a diferença de tonalidade entre os dois forros e as duas espécies diferentes de madeira. Depois de completar o forro do fundo e o forro da borda, falta colocar ainda o forro na zona do encolamento onde os entalhes são mais numerosos.
Completou-se a colocação do segundo forro e faz-se o polimento do casco, primeiro à mão e depois com a ajuda de uma mini-lixadeira delta.

Verificando a qualidade do trabalho realizado com a embarcação a fazer da quilha portaló. A quilha não evidencia empenos pelo que a estrutura não sofreu deformações durante o processo de aplicação do forro. Consegue-se perceber a diferença entre as voltas do forro e a técnica usada para fazer encaixar as tábuas umas nas outras nos topos. Esta técnica de construção dá um toque de realismo significativo ao modelo e realça a beleza constitutiva da madeira, que não deverá ficar escondida sob camadas de pintura.

Aferindo distâncias entre voltas do forro da borda para conseguir produzir uma tábua com as medidas exactas para o intervalo entre a volta imediatamente abaixo do alcatrate e a volta imediatamente acima do convés . Trabalho meticuloso e demorado, recompensado quando tudo corre bem com o facto de não se ter que recomeçar de novo.